terça-feira, 15 de outubro de 2019

"Salve Roma", D. Henrique e aquilo que verdadeiramente interessa

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D. Henrique Soares da Costa
Leonardo Brum

A abordagem do blog "Salve Roma" em tratar os velhos erros doutrinais de D. Henrique Soares como "notícia bombástica" (e anonimamente, ainda por cima) foi, a meu juízo, infeliz na forma. Ficou parecendo "sensacionalismo". Em que medida tudo isso tem a ver (ou não) como minha aula dada sobre o modernismo teológico no Instituto Jackson de Figueiredo [1], não sei dizer. De minha parte — e por piores que sejam as tomadas de posição de D. Henrique em si mesmas — reitero o que disse na referida aula: não está, evidentemente, em D. Henrique, a origem de todos os males dos quais a Igreja padece. Ele apenas foi tomado como exemplo por ter sido quem melhor traduziu em palavras, no Brasil, num artigo conciso e com todas as confissões possíveis, esse espírito que acaba por escusar — sem pudores de atacar o próprio Magistério! — a ala moderada do modernismo.

É por esse espírito que se explica por que movimentos inequivocamente modernistas, como Comunhão e Libertação, fundado pelo Pe. Luigi Giussani, são aprovados pelas autoridades eclesiásticas atuais. É também por esse espírito que se explica o crescimento da influência de figuras daninhas, como Olavo de Carvalho, entre os católicos brasileiros [2]. O alvo que pretendi atingir em minha aula não foi D. Henrique, nem Olavo, nem mesmo o Pe. Gussani em particular, mas antes esse espírito mais geral que se disseminou no seio Igreja: o espírito herdeiro da ala moderada do modernismo, de Maurice Blondel, de Henri de Lubac, da revista Communio; um espírito que bebe da fenomenologia e do existencialismo para negar com Ratzinger os preâmbulos da fé e afirmar com Giussani uma pseudo-mística imanência vital, exatamente como foi descrito e condenado na Encíclica Pascendi. Tal espírito, como que numa "estratégia das tesouras", aparenta ser "conservador" em contraposição aos Boffs herdeiros dos modernistas radicais, de Loisy e Rahner, da revista Concilium, que acabam por desembocar numa "hermenêutica da ruptura" onde até Marx pode ter espaço na teologia, onde se distingue com Küng, por seu naturalismo, o Cristo histórico do Cristo da fé, exatamente como condenou a... Pascendi!

Não se enganem com tal conservadorismo só porque os erros dos radicais são mais evidentes! Troque-se, por exemplo, o naturalismo do modernismo radical pelo pseudo-misticismo do modernismo moderado e continuaremos na mesma confusão fundamental do modernismo entre natural e sobrenatural. Nesse sentido, não adianta trocar Loisy por Blondel, Rahner por de Lubac, Concilium por Communio, Küng por Ratzinger, hermeneutas da ruptura pelos da continuidade, Boff por Olavo ou marxismo por fenomenologia. Como escreveu o Pe. Calderón, é assim que "se perde a repugnância à contradição e se começa a viver tranqüilo na indefinição". Não! Prefiramos estar ao lado de Schwalm, de Garrigou-Lagrange, da Revue Thomiste em seus bons tempos, de Mons. Marcel Lefebvre, dos tradicionalistas, do prof. Carlos Nougué (com todos os problemas que cada um deles possa ter), enfim, do tomismo, mas não por mero partidarismo em relação à corrente teológica "do Tibre", que foi derrotada pela "do Reno" no Vaticano II, pois tomar tal posição já seria fazer o jogo modernista, segundo o qual é normal que haja conservadores e progressistas em disputa na Igreja. Tomemos posição em favor do que ela mesma, a Igreja, ensinou no Syllabus, na Pascendi, na Humani Generis, uma vez que tais documentos não são meros frutos das necessidades de seus respectivos contextos históricos, como um D. Henrique nos quer fazer crer, mas antes, para parafrasear Mons. Gherardini, porque todos eles profeticamente pretendem "livrar a Igreja dos males de que hoje, infelizmente, ela sofre".

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[1] Parte 1 da aula:
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Parte 2 (trato de D. Henrique ao final):

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[2] Não é mera coincidência que o coach-psiquiatra Ítalo Marsili, que considera que Olavo seja o maior filósofo vivo da atualidade no mundo inteiro, apareça num evento ao lado do Pe. Julián Carrón, atual presidente do movimento Comunhão e Libertação, propugnando teses de cariz modernista, como a afirmação de um tal "encontro pessoal com Cristo" em contraposição ao o seguimento de dogmas e preceitos morais, numa falsa dicotomia entre "pessoa" e "doutrina", que não é fruto senão da Nova Teologia, na qual a verdade ontológica é afirmada como objeto da fé em detrimento da verdade lógica, conforme explica o Pe. Calderón aqui. Em relação a como julgar grandeza de um filósofo, também Ítalo está errado e também o Pe. Calderón explica no mesmo livro o porquê.